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quarta-feira, 28 de março de 2007
Caminhou uma vez mais no abismo da cidade
reconstruiu o corpo em andaimes de néon
abraçou-o
desde os alicerces à veia da noite telúrica
subiu
para não se sentir sozinho

era um corpo cuja amargura cegava quem o tocasse
ou nele pressentisse outro corpo prisioneiro
numa moldura enferrujada – juntos
o corpo e a sua imagem dormiam no lixo
como dois ossos abandonados sonhavam devagar
com a paixão que não tinham.

Al Berto

5 Comentários

Adorei o teu post anterior deixou-me e penso que deixará a quem o ler sufocada por ser tão intenso e a morte é sempre um assunto delicado.

Como escreves bem e como te admiro por isso!
Não te digo por ser tua amiga mas porque tens possivelmente os melhores blogs tanto esteticamente como na sua espinha dorsal.

Tal como disse e não brinco gosto do Pessoa e do Chino.

Acho muito bonito este texto e tive a felicidade de falar sobre ele com um fantástico professor de Literatura. Foi o mesmo senhor que me apresentou Fernando Pessoa de uma forma a que impossivelmente eu poderia resistir.
Portanto a nossa discussão de leitores deste texto levou-nos a um ponto em que eu dizia que o que o acompanhava e fazia subir, quem partilhava o chão e o lixo era a sua imagem mas do medo. O medo faz-nos a melhor das companhias principalmente quando estamos abaixo do nível do suportável. Ele acompanha-nos por tnto e tanto tempo que chega a ser quem melhor nos conhece. Disso eu tenho medo!

ainda não tinha tido oportunidade de te dizer do quanto eu acho bonito este teu novo blog.
as fotos do "cabeçalho" estão...quê? perfeitas. no seu abandono. ouve-se a chuva aí dentro.

e o al berto por todo o lado...com a paixão que tem.

...

nan

Vou seguir-te.

Sabes que mais? Sem palavras. Porque Al Berto é assim. Um suster de respiração.

Ah! E ando por aqui a ler-te, como sempre. Isto para dizer: não pares. *


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terça-feira, 27 de março de 2007
baunilha.
Esta noite, não vou dormir, quero ficar a ver a morte dançar sobre o teu corpo adormecido no meu quarto, espero até que todo o sangue escorra para dentro deste balde de ferro que já várias seivas, saboreou.

Dói-me, ter de rasgar com os meus dentes as tuas carótidas, por mais alívio que tal homicídio romanceado me traga.

O sangue doce que jorras do pescoço deixa nos meus lábios um travo amargo a cianeto, será este mesmo veneno que desagua delirante nas minhas veias, o toque de delicadeza que me trará a mim a morte calma e indolor que te era já prometida? Por isso obrigado, por isso desculpa.

Levanto-me, cambaleio até ao chuveiro, aninho-me nos azulejos frios, despejo no ralo todo o sangue que te pertence, com ele escorrem também memórias e conversas à luz de velas.

Recosto-me e espero que a tua dádiva me mostre onde se encontram os verdes campos da liberdade, onde um flamingo descansa do seu último voo e uma criança saboreia um gelado de baunilha.

2 Comentários

"com ele escorrem também memórias e conversas à luz de velas"

Um bom exemplo de lavagem a uma alma, muito suja.
Que todos os chuveiros sejam suficientes para lavar tudo o que vai cá dentro.

beijo*

Lindo... Fantástico este texto! Poderoso... Quase magoa de tão lúcido e louco, ao mesmo tempo!

"Aninho-me nos azulejos frios"... impressionante!

Parabéns e obrigada pelo prazer que foi ler-te!


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segunda-feira, 26 de março de 2007
I Better Be Quiet Now

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sábado, 24 de março de 2007
imcompetencias
Calco cuidadosamente nos meus ombros todo o peso do mundo, descalço-me e escorro lentamente para o lago escuro onde todos morrem deprimidos, não sinto frio, não me sinto molhado, não sinto o pulso. Aqui dentro posso flutuar para sempre, aqui o tempo não passa, os relógios pararam e os corações também, o peito não me dói, e a cabeça não lateja.

Não quero morrer, quero antes não-viver, negar o corpo, negar a respiração e o oxigénio, negar toda a química em mim, só apenas nada, aquele nada que nos enche quando julgamos estar vazios, aquele mesmo nada, que não dói quando todo o nosso corpo arde em agonia.

Torno-me belo, como uma sinfonia, uma guitarra que nos mastiga, que nos martela o sentimento, tornando cada vez mais patente a nossa incompetência para sermos felizes, para nos dar-mos a quem gostamos e nos merece. Somos uns deficientes afectivos, construímos a nossas próprias barreiras arquitectónicas, descriminamo-nos, isolamo-nos, esquecemo-nos

“Um dia talvez entre um copo meio cheio, um cigarro meio apagado, ou simplesmente, naquele dia... explico-te o que se passa comigo”

7 Comentários

Um beijo à sara pela inspiração para a ultima frase.

Chin Chin... vamos ser felizes e vais sair desse lago deixando para trás uma dor que não é tua e não mereces.

"Aqui dentro posso flutuar para sempre"- Knife Party

Eu estou bem, obrigado pela preocupação... serei sempre Anemic and Sweet.

Acho que tens razão, somos deficientes afectivos. *

"Que temos sido nós desde o colégio, desde o exame de Latim? Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento, e não pela razão" - Os Maias ...deves ter razão, secalhar não passamos de deficientes afectivos!

Deficientes afectivos e ignorantes, sim porque a ignorancia também se extende ao sentir.
MAis uma vez um belissimo texto.*

A dificuldade que certas pesoas têm em ser felizes e em sobreviverem ( o tal não-viver que se busca)é equivalente estatisticamente À sua capacidade de sentir e de se darem ao que nunca nos merece pois é sempre visto à nossa semelhança.
Não sei se assim é contigo mas não preciso que puxem para fora do lago. O lago é meu, sou do lago e se ele está lá, aqui, é porque assim o quero.
Eu não sei quanto a ti, a ti não te julgo, ao teu texto que tem isto tudo que eu entendo, eu posso julgar. O texto é para mim isto que aqui deixo porque no meu lago, lá do fundo e entre um mergulho de falsa alegria e uma submersão de desistência, eu li-te assim.
Obrigada pelos cenários em que te constróis.


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quarta-feira, 14 de março de 2007
Caderno Vermelho
Procuras por mim entre as linhas do meu caderno vermelho, onde outrora poemas dançaram ao ritmo de uma caneta de traço grosso e azul.

Palavras cheias de sentimento vestindo fatos de gala ensanguentados pelas mágoas que trazia dentro de mim, faziam par com vírgulas e reticencias que deixavam no ar o aroma a incerteza e desordem. No fim de cada poema um ponto final que me trazia de volta para a azeda realidade que me habitava.

Não encontrarás mais poemas sombrios no meu caderno vermelho, todas as amarguras extinguiram-se na noite em que bebemos vinho junto ao rio. Aquela noite fria em que as estrelas se deitaram cedo, e apenas a lua foi suplantada pelo nosso amor, estranho amor.

Neste momento, as linhas do velho caderno são sufocantes para toda a expressiva escrita que me sai da caneta, sinto que viajo no dorso de um pássaro púrpura de cauda dourada que escreve longos poemas de amor no mesmo escuro céu, daquela sobrenatural noite.

Assim sendo, não abras mais este melancólico caderno, pois apenas borrões de dor restam, se me quiseres ler, olha para o céu e encontrarás certamente palavras de ternura que flutuam por entre as estrelas dos teus olhos.

13 Comentários

Cada vez mais percebo o porquê de gostar tanto de ti e porque consegues cativar a minha atenção, respeito e admiração.
Gosto do Pessoa e de ti!
"És tão perfeito que assustas"

A mudança só te fez bem... ;)

este blog está muito bom.
do ponto ao final.

como um poema.

exprimes-te assustadoramente bem... foi bom saber que o fim do bqad foi só uma virgula, era uma real perda se tivesse sido um ponto final!

Tenho pena que a amargura se consuma assim e que sejamos sempre obrigados a abdicar de uma coisa por outra.
Não poderia ser assim tudo encadeado?
Não poderíamos andar todos a tentar juntar e chegar a ficção mais perto da realidade!?
Canso-me dos meus cadernos encarnados e os dos outros nunca me chegam às mãos...

Ah! Peço desculpa pela intromissão, passarei a visitante mais regularmente e já agora, "roubei" uma das fotos para colocar no meu ecoponto que hoje precisava da chuva de limpeza que aqui encontrei, Obrigada!

Sou desde já uma fã tua! Adoro tudo o que escreves, já li este blogue praticamente todo e também o teu antigo onde me apaixonei por um texto.
Continua, o excelente despejar de emoçoes e sentimentos.

*

Lol também não é muito dificil leres este blog todo visto só ter 5 posts!

Ena Ena! Tanto Comentario Bonito, a ver se não acuso a pressão.

Bom sentir tudo que teu poema evoca, dá vontade de tocar as estrelas...

Quanta delicadeza, quanta coisa bonita que encontrei por aqui.

Um beijo e uma constelação toda pra ti.

Sabes, a mim ninguém me procura nos meus cadernos de capas coloridas... Ninguém sem ser eu... Às vezes vou à procura de mim entre as folhas mais ou menos velhas onde me escrevi... Às vezes volto a encontrar-me... Outras percebo que já não moro ali! E nessas alturas percebo que nunca saberei quem sou nem quem serei! Talvez perceba, no dia da minha morte, que sou as cores de todas as capas dos cadernos onde me tenho escrito!

Amei o texto! Muito, muito bom!

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terça-feira, 13 de março de 2007
Janelas


Abro a janela do meu quarto e respiro fundo.

2 Comentários

Isso tem ar de ser aquele edifício da Foz...
Simples e bonito.

Trabalho num sítio com esta vista portanto para mim será, vou-me arranjar e vou trabalhar...e depois esta imagem!


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segunda-feira, 5 de março de 2007
Um dia a maioria de nós irá separar-se
"Um dia a maioria de nós irá separar-se.

Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos. Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre. Hoje não tenho mais tanta certeza disso.

Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida. Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nas cartas que trocaremos. Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices... Aí, os dias vão passar, meses...anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro. Vamo-nos perder no tempo....

Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão: "Quem são aquelas pessoas?" Diremos...que eram nossos amigos e...... isso vai doer tanto! -"Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!" A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente......

Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo. E, entre lágrima abraçar-nos-emos. Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado. E perder-nos-emos no tempo....

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades....

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"

de um autor desconhecido, para as pessoas que eu estimo.


edit: corrigido após reparo da Nan (obrigado)

3 Comentários

Todos os dias me lembro e todos os dias me esqueço..

"Our Problems start when we don't die young"

Para quem já viu morrer uma relação de amizade de 6 anos este texto parece ser muito romantizado.
É uma maneira bonita de se pensar no futuro e no fim mas por vezes as coisas acabam sem pequenos regressos ao saudosismo.

já conhecia este texto, via email, e também porque se encontra no blog duma amiga.
todo ele é verdade.

mas...

não é do nosso Fernando Pessoa.

...

nan


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sábado, 3 de março de 2007
Tropeço-me
Tropeço-me
Rasteiro-me com pensamentos fúteis e ideias formatadas
torno-me repetitivo e insuportável
as palavras que sempre uso tornam-se mais pesadas,
e levam-me ao fundo.

Esta frio aqui.
A luz não chega e as soluções são problemas
As perguntas como um amontoado de tijolos,
formam um muro que não me deixa ver além

Era como se cego fosse,
até preferia possuir tal handicap
teria motivos para sonhar com lugares,
com sorrisos e olhos brilhantes

Poderia imaginar-me,
iria certamente apagar as olheiras
da minha cara encardida
Oh beleza e perfeição!

Sou tão imperfeito
que me apaixonei pelos meus defeitos.
Tão únicos como banais,
tornam-me este barro colorido
em vários cinzentos e tons de arco-íris.
Ora fácil de moldar,
Em dias que o calor e o óleo do teu amor,
me preenchem e derretem,
ora sólido e frio
inundado de indiferença e sarcasmo

Mais não sei, e por agora dispenso saber

1 Comentários

Sabes o que é estranho ao leres um amontoado de palavras que são escritas por mãos que nunca viste e pensadas e sentidas por seres que nem conheces e no entanto parece que as paredes de memórias são as mesmas. Que os dicionários mentais são só feitos de sinónimos e que no fundo ao longo dos anos os livros de mesa de cabeceira até coincidiram...isto é estranho.
"Sou tão imperfeito
que me apaixonei pelos meus defeitos."
Habituamo-nos a lidar comnosco e se primeiro se estranha depois entranha-se e no fundo no fundo só nós é que nos conseguimos aturar no meio da solidão.
Gostei do sentimento de estranheza vivido assim na blogosfera. Só tinha sentido isto assim com letras de músicas, com poemas.


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