quarta-feira, 28 de março de 2007
Caminhou uma vez mais no abismo da cidade
reconstruiu o corpo em andaimes de néon
abraçou-o
desde os alicerces à veia da noite telúrica
subiu
para não se sentir sozinho
era um corpo cuja amargura cegava quem o tocasse
ou nele pressentisse outro corpo prisioneiro
numa moldura enferrujada – juntos
o corpo e a sua imagem dormiam no lixo
como dois ossos abandonados sonhavam devagar
com a paixão que não tinham.
Al Berto
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terça-feira, 27 de março de 2007
Esta noite, não vou dormir, quero ficar a ver a morte dançar sobre o teu corpo adormecido no meu quarto, espero até que todo o sangue escorra para dentro deste balde de ferro que já várias seivas, saboreou.
Dói-me, ter de rasgar com os meus dentes as tuas carótidas, por mais alívio que tal homicídio romanceado me traga.
O sangue doce que jorras do pescoço deixa nos meus lábios um travo amargo a cianeto, será este mesmo veneno que desagua delirante nas minhas veias, o toque de delicadeza que me trará a mim a morte calma e indolor que te era já prometida? Por isso obrigado, por isso desculpa.
Levanto-me, cambaleio até ao chuveiro, aninho-me nos azulejos frios, despejo no ralo todo o sangue que te pertence, com ele escorrem também memórias e conversas à luz de velas.
Recosto-me e espero que a tua dádiva me mostre onde se encontram os verdes campos da liberdade, onde um flamingo descansa do seu último voo e uma criança saboreia um gelado de baunilha.
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segunda-feira, 26 de março de 2007
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sábado, 24 de março de 2007
Calco cuidadosamente nos meus ombros todo o peso do mundo, descalço-me e escorro lentamente para o lago escuro onde todos morrem deprimidos, não sinto frio, não me sinto molhado, não sinto o pulso. Aqui dentro posso flutuar para sempre, aqui o tempo não passa, os relógios pararam e os corações também, o peito não me dói, e a cabeça não lateja.
Não quero morrer, quero antes não-viver, negar o corpo, negar a respiração e o oxigénio, negar toda a química em mim, só apenas nada, aquele nada que nos enche quando julgamos estar vazios, aquele mesmo nada, que não dói quando todo o nosso corpo arde em agonia.
Torno-me belo, como uma sinfonia, uma guitarra que nos mastiga, que nos martela o sentimento, tornando cada vez mais patente a nossa incompetência para sermos felizes, para nos dar-mos a quem gostamos e nos merece. Somos uns deficientes afectivos, construímos a nossas próprias barreiras arquitectónicas, descriminamo-nos, isolamo-nos, esquecemo-nos
“Um dia talvez entre um copo meio cheio, um cigarro meio apagado, ou simplesmente, naquele dia... explico-te o que se passa comigo”
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quarta-feira, 14 de março de 2007
Procuras por mim entre as linhas do meu caderno vermelho, onde outrora poemas dançaram ao ritmo de uma caneta de traço grosso e azul.
Palavras cheias de sentimento vestindo fatos de gala ensanguentados pelas mágoas que trazia dentro de mim, faziam par com vírgulas e reticencias que deixavam no ar o aroma a incerteza e desordem. No fim de cada poema um ponto final que me trazia de volta para a azeda realidade que me habitava.
Não encontrarás mais poemas sombrios no meu caderno vermelho, todas as amarguras extinguiram-se na noite em que bebemos vinho junto ao rio. Aquela noite fria em que as estrelas se deitaram cedo, e apenas a lua foi suplantada pelo nosso amor, estranho amor.
Neste momento, as linhas do velho caderno são sufocantes para toda a expressiva escrita que me sai da caneta, sinto que viajo no dorso de um pássaro púrpura de cauda dourada que escreve longos poemas de amor no mesmo escuro céu, daquela sobrenatural noite.
Assim sendo, não abras mais este melancólico caderno, pois apenas borrões de dor restam, se me quiseres ler, olha para o céu e encontrarás certamente palavras de ternura que flutuam por entre as estrelas dos teus olhos.
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terça-feira, 13 de março de 2007
Abro a janela do meu quarto e respiro fundo.
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segunda-feira, 5 de março de 2007
"Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos. Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre. Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida. Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nas cartas que trocaremos. Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices... Aí, os dias vão passar, meses...anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro. Vamo-nos perder no tempo....
Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão: "Quem são aquelas pessoas?" Diremos...que eram nossos amigos e...... isso vai doer tanto! -"Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!" A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente......
Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo. E, entre lágrima abraçar-nos-emos. Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado. E perder-nos-emos no tempo....
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades....
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"
de um autor desconhecido, para as pessoas que eu estimo.
edit: corrigido após reparo da Nan (obrigado)
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sábado, 3 de março de 2007
Tropeço-me
Rasteiro-me com pensamentos fúteis e ideias formatadas
torno-me repetitivo e insuportável
as palavras que sempre uso tornam-se mais pesadas,
e levam-me ao fundo.
Esta frio aqui.
A luz não chega e as soluções são problemas
As perguntas como um amontoado de tijolos,
formam um muro que não me deixa ver além
Era como se cego fosse,
até preferia possuir tal handicap
teria motivos para sonhar com lugares,
com sorrisos e olhos brilhantes
Poderia imaginar-me,
iria certamente apagar as olheiras
da minha cara encardida
Oh beleza e perfeição!
Sou tão imperfeito
que me apaixonei pelos meus defeitos.
Tão únicos como banais,
tornam-me este barro colorido
em vários cinzentos e tons de arco-íris.
Ora fácil de moldar,
Em dias que o calor e o óleo do teu amor,
me preenchem e derretem,
ora sólido e frio
inundado de indiferença e sarcasmo
Mais não sei, e por agora dispenso saber
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