terça-feira, 24 de julho de 2007
A manhã começou calma, tão tranquila que o sono que toda a noite teimou em não se revelar, encontra-se agora tentado a entrar sorrateiro dentro do corpo cansado.
As nuvens deslocam-se sonolentas pelo céu cinzento, destinadas a encontrar os seus fados no fim do mundo… Sou invadido pela necessidade de ser leve como uma nuvem, e com elas viajar para lá das serras de pedra negra, e encontrar então um rumo que me incite a marcar no mapa os meus próximos voos.
Ao fundo, em jeito de fotografia, agita-se a maior das arvores, verdejante e robusta possui uma soberania tal que é possível sentir-se ao longe, qual gigante adormecido que encontrou nas raízes a solidez necessária para adormecer de pé e para sempre ser lembrado.
Já me chega de naturezas vivas, onde a morte se estende adormecida.
Liberto-me de todas aquelas palavras pesadas e sentimentos moribundos, dispo o passado, mais que imperfeito, e entro no chuveiro…
Atordoado, encontro na água quente que escorre, a companhia perfeita para o desligar de todo o sistema que corre o mesmo programa de sobrevivência durante meses seguidos sem reiniciar.
Deixo de ver, e em seguida de ouvir… sinto-me a deixar de existir… lentamente largo a carne a pele e os ossos para ficar apenas uma luz, algo tão esplêndido como incompreensível. Sinto-me incrivelmente vazio, como se todo o universo coubesse dentro de mim.
Encontro as minhas perguntas.
Encontro as minhas respostas...
vou.
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sexta-feira, 13 de julho de 2007
- Ouve! É a nossa música!
- Sim, é. Queres que mude?
Faço sinal que sim com a cabeça. Ela põe a tocar Radiohead. Lentamente todo o quarto ganha um novo cheiro, uma nova cor… Que bem que sabe, estar ao lado dela, deitados de barriga para o ar partilhando um silêncio confortável, deixando que a nossa intimidade dance no tecto, enquanto os nossos corpos se enterram nos lençóis, harmoniosamente estendidos sobre os tacos baços e riscados.
O velho leitor de cassetes, parece debitar a banda sonora do nosso filme a dois, embala-nos, tornando as nossas expressões letárgicas e vazias, enormes e sonsos sorrisos de contentamento. Parece tudo perfeito e sincero, a forma inocente com que os nossos braços descansam sem vida, sobre os nossos peitos ou o dedo ainda desperto, que esboça na pele dela meigas palavras como Carícia e Ternura. Momento digno de ser pintado num quadro famoso, daquelas galerias arte chiques sobre o Amor e os Amantes.
O que realmente torna magnífico, este instante, é o facto de eu saber que, durante esta música extravagante que parece tocar eternamente, eu sou a pessoa que tu queres que eu seja.
- Que horas são?
- Horas de amar!
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