quarta-feira, 31 de outubro de 2007
Tão feios me parecem os girassóis, agora que a jarra se partiu… No centro da mesa, apenas o caderno de argolas vermelhas desengonçadas que deixam voar folhas pela sala, que pairam sobre a minha cabeça até que algo pesado como a saudade, as atire violentamente para o chão frio e áspero de cimento.
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terça-feira, 30 de outubro de 2007
Deslizo bêbado pela longa e torta rua do amor, semeio pequenos sonhos entre as pedras da calçada, esperando que a luz de um outro dia mais luminoso cuide deles, melhor que este coração fechado para obras de manutenção.
É interminável esta rua de casas sem janelas e de portas trancadas, mas para um homem vazio não mais são que paisagens mortas que me embalam pela ruela maldita.
Faz algum tempo que a solidão me abandonou, deixando-me a sós com a saudade… que se diga não é boa companhia… pouco se faz ouvir, e quando se pronuncia é sob a forma de gélidas e negras palavras que me paralisam e me fazem cair na sarjeta, onde escorrem histórias de amor sem finais felizes.
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segunda-feira, 29 de outubro de 2007
Recordo-me de brincar nesta sala, outrora alcatifada… renunciava o movimento dos ponteiros e perdia-me por um mundo amplo e iluminado, maior que quarenta estádios de futebol.
Sabe bem sentir o leve cheiro da nossa infância que ficou pregado aos sonhos mais belos e antigos… Derivo pela memória saltando de momento em momento, no álbum de polaróides do meu avô.
Mas as fotos não escaparam ao tempo, desfocadas e queimadas, acabam por enganar a lembrança, e relegam os tempos mais áureos da minha infância para o baú das banais brincadeiras de criança
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domingo, 28 de outubro de 2007
Em cima de mim, amontoadas, paginas em branco reflectem os momentos em que não sei o que dizer, em que o sentimento não me escorreu pelo braço enquanto a caneta esperava de frente para o papel.
É um silencio confortável, que toma novas formas com o passar dos dias, com a metamorfose dissimulada a que minha vazia carcaça é sujeita.
Se tivesse de o descrever diria que é dos silêncios mais silênciosos que já presenciei… um silencio inodoro, que não é frio e penoso nem quente e reconfortante, é um silencio em branco…
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sábado, 13 de outubro de 2007
Desconhecida número 12
Paixão número 18
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segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Continuo a queimar histórias de amor para iluminar os meus serões, também por uma questão de arrumação… Sentado faço a minha higiene emocional, como se depilasse o coração duas vezes por mês.
As labaredas ganham novo vigor a cada sonho incinerado, fazendo com que parágrafos se estilhaçassem em pequenas fagulhas que dançam pelo quarto, semelhantes a pirilampos acasalando em noites quentes de verão.
A combustão de memórias e sentimentos deixa no ar um cheiro a frutos silvestres, igual ao perfume de antigas paixões… nada que impressione um homem de mãos queimadas.
A luz trémula da fogueira cria sombras em todo o quarto, sombras onde sei que se escondem fantasmas, que mais tarde, quando só cinzas restarem sobre o chão, surgirão levianos para me cantar ao ouvido canções de românticos suicidas
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