terça-feira, 27 de março de 2007
Esta noite, não vou dormir, quero ficar a ver a morte dançar sobre o teu corpo adormecido no meu quarto, espero até que todo o sangue escorra para dentro deste balde de ferro que já várias seivas, saboreou.
Dói-me, ter de rasgar com os meus dentes as tuas carótidas, por mais alívio que tal homicídio romanceado me traga.
O sangue doce que jorras do pescoço deixa nos meus lábios um travo amargo a cianeto, será este mesmo veneno que desagua delirante nas minhas veias, o toque de delicadeza que me trará a mim a morte calma e indolor que te era já prometida? Por isso obrigado, por isso desculpa.
Levanto-me, cambaleio até ao chuveiro, aninho-me nos azulejos frios, despejo no ralo todo o sangue que te pertence, com ele escorrem também memórias e conversas à luz de velas.
Recosto-me e espero que a tua dádiva me mostre onde se encontram os verdes campos da liberdade, onde um flamingo descansa do seu último voo e uma criança saboreia um gelado de baunilha.
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