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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007
Ardeu
Faz agora dois anos que o fogo deflagrou na minha pequena aldeia, a principio era tudo tão agradável, o calor e a iluminação que provinham das chamas pareciam alegrar as pessoas que perdiam casas e haveres. Como se de uma reunião do condómino do Olimpo se tratasse, juntou-se toda a população no centro da aldeia para alimentar o belo fogo, que lhes enchia os corações e alegrava a alma.

Queimou-se o dinheiro, a comida, as memórias, o fogo crescia e tornava-se mais belo, as labaredas dançavam no céu escurecido pelas cinzas, desenhando pássaros e leões que lutavam entre si. A combustão continuava, e a população rejubilava, tamanha euforia que toda a aldeia ardia alimentando o selvagem e apaixonante incêndio.

Mas o inesperado aconteceu, quando o fogo não encontrou mais matéria para consumir, o povo correu para as labaredas como quem abraça Deus e recebe a redenção, foi um espectáculo grotesco o que assisti, homens, mulheres e crianças correndo de mãos dadas para o centro daquela ardente calamidade. No ar sentia-se o cheiro a gordura e carne a queimar, este odor intenso e macabro perdia-se entre os gritos de aflição e alegria que vinham do centro desta gigante e diabólica fogueira… apenas eu sobrevivi…

O fogo ardeu um ano até se extinguir, e o outro ano se passou até que por fim a bênção da chuva caiu sobre as cinzas e o meu corpo queimado. Uma frescura arrebatadora encheu-me o corpo, senti vontade de chorar, de finalmente libertar-me da dor. Lentamente as minhas queimaduras desapareceram, à minha volta, cresceram arvores e arbustos, demorou pouco até estar rodeado de vida e natureza.

Chove há meses, e estou sozinho neste jardim proibido onde o pecado e tragédia enterrados no solo alimentam as sebes que me aprisionam neste labirinto natural. Aqui espero o dia em que a chuva pare de cair e o Sol brilhe pela primeira vez em anos.

3 Comentários

Mais um excelente texto do Senhor Genialidade.

uau.... =0
Adorei...gosto da maneira como escreves =D

Lamento informar mas o sol brilha sempre e o pior é que o gajo brilha mesmo quando para nós chove.
É a minha primeira visita e já tou a gostar, ainda agora li o primeiro texto.


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